quarta-feira, 30 de janeiro de 2013
RACIOCÍNIO LÓGICO
"O Raciocínio Lógico é cheio de desafios e prepara o ser humano para o próximo
milênio. Até agora tivemos o século das máquinas e da tecnologia. O primeiro século do
próximo milênio vai ser o do pensar. Vai vencer aquele que tiver instrumentais,
pensamentos lógicos, quem for criativo e inovador." (Jonofon Sérates, Isto É)
O que é o conhecimento lógico-matemático na educação infantil
Construção do conhecimento lógico-matemático: explorando as situações cotidianas
Por Ester Schaly Cardoso
Geralmente as crianças já sabem contar quando chegam à escola, e a grande maioria dos professores apenas realiza exercícios de escrita dos numerais e de correspondência entre eles e conjuntos. No entanto, contar de memória é diferente de contar com significado, o que exige uma estrutura lógico-matemática construída pela criança.
A criança não constrói o número fora do contexto geral do pensamento do seu cotidiano. Para Piaget, os conceitos lógicos precedem os numéricos. O conceito de número baseia-se na formação e sistematização da mente em duas operações: classificação e seriação. A simples observação de classificações ou seriações prontas não são suficientes para a criança. Cabe ao professor oportunizar desde a pré-escola várias situações que permitam ao aluno elaborar estes processos. Para Kamii, o ensino do número deveria encorajar a criança a colocar todos os tipos de coisas em todas as espécies de relações.
Segundo Rangel, é somente agindo intensamente sobre os objetos em atividades como quantificar coleções significativas para ela que a criança poderá ir progressivamente construindo a estrutura do número que é a base para todo o conhecimento lógico-matemático.
Nestas atividades cotidianas o que fará a diferença será a intervenção do professor ou a sua intencionalidade pedagógica. Para isto, ele deve conhecer a maneira de pensar da criança a fim de fazer intervenções adequadas que possibilitem a elas confrontarem suas hipóteses, desequilibrando-se cognitivamente, e a partir de sua ação sobre o objeto possam estabelecer conexões entre o que sabem e o novo, construindo assim um novo conhecimento, e aos poucos possam ir conquistando a tão desejada autonomia intelectual. Segundo Piaget, os adultos estimulam o desenvolvimento da autonomia intelectual da criança quando intercambiam pontos de vista com as crianças, ou seja, a interação entre professor e aluno é fundamental.
Segundo Marincek o papel do professor é planejar boas atividades de aprendizagem. Por exemplo, ao trabalhar com situações problemas os alunos estarão envolvidos com a essência da atividade matemática e estarão utilizando diversas habilidades para resolvê-los, como antecipação das soluções, formulação de resultados, justificação de escolhas, argumentação de postos de vista, e, desta forma, acaba por construir um conhecimento contextualizado.
Contextualizar o aprendizado da criança e fazer com que ele se amplie é um grande desafio do professor e, conforme destaca Zabala, é uma das funções sociais da escola; fazer com que o conhecimento cotidiano fique melhor. O professor deve aproveitar a bagagem cultural que a criança traz de seu meio social e a partir desta explorar suas concepções de mundo tornando-a consciente de seus atos e do motivo das coisas se constituírem como são, mas acima de tudo utilizar esses conhecimentos cotidianos como uma forma de progresso, propiciando que estes evoluam para o nível dos conceitos científicos, pois, a aprendizagem dirigida pelo educador é qualitativamente superior aos processos espontâneos de aprendizagem.
Segundo Smolle (2000) além de habilidades lógicas matemáticas é necessário que os alunos tenham a oportunidade de ampliar suas competências espaciais, corporais, intelectuais, intrapessoais e interpessoais. As brincadeiras infantis possibilitam explorar idéias referentes a número de um modo diferente do convencional, pois brincar é mais do que uma atividade lúdica é um modo de obter informações, além de aquisição de hábitos e atitudes importantes.
Sugestões de atividades:
Desta forma, considerando que a falta de noção de número impede a compreensão das relações numéricas podemos organizar uma seqüência de atividades relacionadas com a vida cotidiana da criança, para que a construção numérica tenha sentido, favorecendo assim o estabelecimento de diversas relações:
- Encorajar as crianças a quantificar objetos logicamente e a comparar conjuntos em atividades como a de levar lápis para todos os colegas do grupo em que ela senta.
- Organizar cinco, dois ou três grupos com as cadeiras da sala.
- Comparar o grupo de meninos e meninas.
- Distribuição das merendas, observando como realiza esta tarefa, desafiando-a a distribuir de forma igual para todos os colegas certa quantidade de biscoitos, bolo, balas, pirulitos etc.
- Propor a ida a um supermercado onde cada criança terá a tarefa de comprar pirulitos ou balas para certa quantidade de pessoas, observando como realiza a compra e se usa a relação termo-a-termo para efetuar a compra. n
- Construção de gráficos sobre as letras do nome, a quantidade de pessoas da família, meio de transporte utilizado para ir à escola, mês de nascimento, idade, altura, cor dos olhos, cabelos etc.; explorando e analisando com os alunos os dados obtidos.
- Explorar a escrita e a leitura do nome, em que as crianças devem identificar cada letra do seu nome, recortando-as e destacando-as. Reconstruir a escrita do nome colando as letras com o apoio de um pequeno crachá, ordenado-as em correspondência termo-a-termo. Quantificar as letras do nome separando com o apoio na correspondência termo-a-termo, um palito de picolé ou forminha de doce para cada letra do nome, estabelecendo relações do tipo:
Quantos palitos ou forminhas recebeu? Quantos ganhou? Quantos faltam? Quantos sobram? Quem ganhou mais, menos, a mesma quantidade?
Nesta atividade pode-se realizar um jogo de memória com os palitos ou forminha, tentando formar o seu nome e explorando os mesmos aspectos que foram descritos acima.
- Construção de um álbum do nome mostrando quais as diversas maneiras com que podem mostrar quantas letras tem o seu nome.
- Para crianças de 2 a 3 anos uma atividade interessante é construir uma chamadinha com um desenho duplicado de bicho de EVA para cada criança, exemplo dois cachorros, dois macacos, dois tigres etc. A cada dia pode-se fazer a chamadinha de uma maneira; com os desenhos virados para baixo onde a criança tem de achar o seu (tipo memória), ou virados para cima bem misturado e solicitar que achem os dois bichos que são seus. Ou ainda, enfileirar os desenhos e recolher um dos desenhos e solicitar que descubram qual está faltando.
- Outra atividade interessante para crianças bem pequenas é a utilização da história "Barulho na Caixa" da autora Clélia Machado. Conta-se a história com o auxílio de um flanelógrafo, dos animais da história e a caixa. A cada vez que a história é contada um dos animais é escondido dentro da caixa e pode-se questionar as crianças qual é o bichinho que agora está faltando. Apesar de ser uma atividade muito simples ela é muito interessante, pois provoca equilíbrio mental e estimula o raciocínio lógico-matemático destas crianças bem pequenas.
Outras histórias que podem ser utilizadas:
MEDO DO ESCURO Antonio Carlos Pacheco - Editora Ática
A partir desta história o professor pode propor às crianças um jogo que envolverá a quantificação de sílabas dos nomes dos personagens.
Materiais :
- Dado com o desenho dos personagens.
- Tabuleiro com o desenho de uma trilha.
- Um pino para deslocar na trilha.
Procedimento: Após a história a turma pode ser dividida em equipes que ganharão cada uma um tabuleiro com o desenho de uma trilha e um pino.
Cada equipe deverá jogar o dado, o qual indicará o nome do personagem. O grupo deverá falar o nome do personagem que o dado indicou contando a quantidade de sílabas deste, ou quantos pedacinhos esta palavra tem. A contagem pode ser feita através de palmas. Após a contagem o grupo deve deslocar o pino de acordo com a quantidade de sílabas da palavra que sorteou.
Exemplo: a palavra é estrela – Três pedacinhos ou sílabas, anda três casas para frente na trilha.
O professor pode questionar quantos pedacinhos tem cada nome, que outros nomes tem o mesmo tanto de pedaços do que este etc. Após o término do jogo pode-se fazer um registro individual do jogo em uma planilha.
A partir destas histórias o professor pode propor a confecção de jogos de memória, quantificação, seriação, classificação e bingo.
UM AMOR DE CONFUSÃO Dulce Rangel - Editora Moderna
Materiais :
- Desenho de um ninho que pode ser feito pelos alunos.
- Dado de quantidades.
- Papéis recortados em forma de ovos (6 cores).
- Dado de cores (6 cores).
Procedimento: Após o professor contar a história, cada criança recebe um ninho. Elas deverão jogar o dado de quantidades e o de cores que indicarão quantos ovos serão comprados e qual a cor destes. Os ovos serão colocados no ninho. O professor pode solicitar no final do jogo que as crianças classifiquem os ovos por suas cores verificando qual a cor que tem mais, a que tem menos, quanto a mais, quanto a menos. Se as crianças forem maiores o professor pode introduzir um terceiro dado de tamanhos. Assim poderão fazer atividades de seriação (do maior ao menor).
O HOMEM QUE AMAVA CAIXAS Stephen Michael King - Editora Brinque-book
Materiais :
- Caixas de diferentes cores e tamanhos.
Procedimento: Após ouvirem a história o professor pode fazer diversas atividades com sucatas de caixas.
1º) Noção de tamanho: O professor identifica duas caixas de papelão vazias, uma com a palavra grande e a outra com a palavra pequena. As crianças vão pegando as sucatas e relatando se são grandes ou pequenas e colocam na caixa referente ao tamanho.
2º) Noção de cor e espessura: Dividir as crianças em grupos e colocar as sucatas à disposição dos grupos. Cada grupo terá uma tarefa: Grupo 1 - separar todas as caixas que forem da cor amarela, por exemplo; Grupo 2 - separar todas as caixas que forem finas; Grupo 3 - separar as que forem grossas.
3º) Após explorar as sucatas o professor pode promover um oficina de construção de brinquedos.
ROMEU E JULIETA Ruth Rocha - Editora Ática Materiais:
Matérias:
- Dado de quantidades.
- Dado de cores (6 cores).
- Dado com o desenho de borboleta e de flor (intercalando as faces do dado, uma com borboleta, a outra com flor etc.).
- Desenhos de borboletas e flores (6 cores) que podem ser feitos pelos próprios alunos.
Procedimento: Cada criança irá jogar os três dados simultaneamente. Estes indicarão a quantidade a ser comprada, o tipo de personagem, a cor. O professor pode solicitar que as crianças classifiquem os materiais. Após o jogo verifica-se quem ganhou mais flores, quem ganhou mais borboletas, quem ganhou menos, qual a cor que mais saiu etc.
Após o jogo os alunos podem utilizar suas fichas para montar um lindo desenho.
MANECO, CANECO, CHAPÉU DE FUNIL Luiz Camargo - Editora Ática
Materiais:
- Dado com o desenho dos objetos que formam o Maneco.
- Desenhos dos objetos para serem comprados.
- Moedinhas.
Procedimento: Cada criança recebe seis moedinhas. Deverá jogar o dado e ver qual o objeto que irá comprar para montar o seu Maneco. A cada objeto tirado no dado deve efetuar sua compra dando uma moedinha. Desta forma, o professor pode ir explorando quantas moedinhas ainda resta, quantas foram gastas, quantos objetos já foram comprados, quantos ainda faltam etc. O jogo acaba quando todos os participantes compraram todos os objetos necessários para montar o Maneco caneco.
Conclusão: Tendo em mente que a aprendizagem se torna significativa quando o indivíduo dá um significado pessoal a ela, exige que o ato de aprender seja visto como compreensão de significados, que se re- lacione com as experiências pessoais, promova o estabelecimento de relações e a utilização do que aprendeu em diversas situações. Portanto, a qualidade do ensino depende da postura do professor, uma postura compromissada com seu trabalho; no entanto, não é apenas uma questão referente a ele, diz respeito à natureza do currículo e à organização da escola.
Ester Schaly Cardoso
Pedagoga graduada em Educação Infantil e séries iniciais. Pós-graduada em Educação Infantil.
Referências bibliográficas:
KAMII, Constance. A criança e o número. São Paulo: Ed. Papirus,1985.
MARINCEK, Vânia (coord). Aprender matemática resolvendo problemas. Porto Alegre: Artmed, 2001.
PIAGET, Jean. A gênese das estruturas lógicas matemáticas. São Paulo: EPU, 1976.
RANGEL. Ana Cristina. Educação matemática e a construção do número. Porto Alegre: Artes Médicas, 1992.
SMOLLE, Kátia Stocco e Outros. Coleção matemática de 0 a 6 anos. Porto Alegre: Artmed, 2000.
ZABAlZA, Antoni. Enfoque globalizador e pensamento complexo: uma proposta para o currículo escolar. Porto Alegre: Artmed, 2002.
Fonte(s):
http://www.revistacriar.com.br/index.HYPERLINK "http://www.revistacriar.com.br/index.php?paga=8c2&topic=45&edi=8"php…
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